Por que animais criados em pasto não são muito melhores (reportagem do "The Atlantic) -
Nós acreditamos que os animais mereçam viver sob condições que os permitam buscar felicidade (o que não é o mesmo dizer que eles não vão virar o almoço de outro animal). Assim, todo estudo tem um estudo que tenta provar exatamente o contrário, toda fato que assumimos pra usar de partida pra uma idéia, sempre vai encontrar uma hipótese que levou em conta exatamente a negativa do fato pra chegar a certas conclusões.
Levando em conta essa contra-hipótese, animais de pasto podem ser melhores que os confinados, mas não são a maravilha que parecem. Como as fazendas industriais de confinamento produzirem 99% da carne consumida pelos norte americanos, é seguro dizer que qualquer pessoa preocupada com a ética da produção de alimentos se opõe a esse tipo de produção. Animais em confinamento não têm acesso às precondições de felicidade - ou seja, a liberdade de se mover, fazer escolhas básicas, procriar e socializar. O fato de que animais são equiparados a máquinas, ao invés de criaturas com vida respeitada, bate na nossa cabeça como uma coisa errada.
Comparando os 2, animais de pasto sofrem menos do que os de fazendas de confinamento. Aí é que todos os consumidores que preferem os de pasto se justificam. Mas, aí que o autor indaga: Sofrer menos é o suficiente? Será que matar o animal já constitui o que as fazendas de confinamento fazem? Será que isso já justifica a rotulação de confinamento = RUIM e pasto = BOM?
O autor ainda aborda a perspectiva de perda de felicidade: tendo o animal de pasto vivido uma vida relativamente "feliz", em comparação com o animal confinado, a sua perda será maior quando ele for abatido. O ponto dele é o de que, de uma maneira ou de outra, os animais serão feridos. Cedo ou tarde.
O texto ainda afirma que é possível ferir um animal sem machucá-lo. Animais de fazenda tem um senso de identidade individual no tempo e espaço. Eles são seres com potencial. Matá-los é o mesmo que apagar este potencial. É negar o seu direito a um futuro de busca do prazer. Os defensores dizem que os animais, que muitas vezes são abatidos sem sentir dor, nem ver o que os espera, não sabem o que perderão. Mas daí podemos usar o mesmo argumento do "não sabem" em favor do confinamento (esqueçamos as implicações ambientais desta prática): os animais confinados não ficam o dia inteiro se remoendo de inveja de seus "primos" do pasto. Eles não sabem o que está se passando por lá. Portanto, não sabem o que estão perdendo, e assim, não sofrem. Touché.
Para finalizar, o autor pega pesado, e afirma que ao escolhermos a morte de um animal, estamos priorizando seu sabor em detrimento de seu direito ao futuro. Até que alguém o convencá de que esse detrimento não constitui uma ferida desnecessária, ele vai continuar a ver criação a pasto e confinamento como graduações diferentes da escala de crueldade. E você?
P.S.: Mais uma vez, não sou vegetariana. Coloco textos com diferentes pontos de vista justamente pra incitar a discussão sobre esses assuntos.
Fonte: The Atlantic
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