Help those suffering in the Horn of Africa

05 setembro 2010

Frankenfoods?


Frankenfood. Comida do Frankestein. Assim, nos anos 90, que foram apelidados os alimentos transgênicos por pessoas como Paul Mccartney, por exemplo, em sua campanha "Say no to GMO". Bom, apesar de toda essa movimentação de ativistas querendo causar impacto - e medo- nos consumidores, hoje 75% da soja e 25% do milho cultivados mundialmente são transgênicos. Traduzindo: há chances altíssimas de todos nós já termos comido - e estarmos comendo regularmente - OGMs. E nem sabíamos disso.
Como diz uma reportagem da última revista Exame, hoje as pesquisas não se concentram apenas em transgênicos que são resistentes a pragas e/ou pesticidas. Agora há foco nos "super alimentos", aqueles que são notavelmente mais ricos em determinada substância que faz bem à saúde de quem a consome. Por exemplo, a Monsanto só está aguardando a aprovação do governo americano para que se começe a comercialização do óleo da soja que foi especialmente desenvolvida para ter mais ômega 3. O gene das algas que são a base alimentar do Salmão (que é famoso por ter altas concentrações de ômega 3) foram isolados e enxertados na soja. Como resultado, a nova variedade de soja produz, em menos de meio hectare, a mesma quantidade de ômega 3 presente em 10 000 porções de salmão. A idéia então é produzir alimentos (barrinhas de cereais, margarinas, molhos) com esse benefício do alto teor de ômega 3.
O que vem alavancando as discussões sobre alimentos transgênicos são as crises de escassez de comida. Regiões como a África, onde se consome muito pouco e portanto soluções de alta produtividade, alto potencial nutritivo e poucas perdas são bem vindas. Previsões como as da ONU, que estima que a população mundial crescerá em 30% até 2050. Aumento do consumo de carne pela classe média de número esmagador de países como China e Índia. Todos esses fatores levam os cientistas e empresas a pensar em soluções para aumento da produção de alimentos. E ninguém vem prosperando tanto ultimamente nessa área como a indústria de OGMs.
Sim, tivemos a Revolução Verde, que aumentou a produtividade das plantações por meio de técnicas de cultivo e irrigação. Porém, há alegações de que tais técnicas não serão suficientes para produzir o bastante para o tamanho da população mundial no futuro.
Além disso, defensores dos transgênicos alegam que eles são tão vantajosos quanto a agricultura orgânica, no sentido de que usam menores volumes de pesticidas e fertilizantes. Isso é uma alegação consistente. Pensar em equiparar o aumento da produção de alimentos previsto com proporcional aumento no uso desses produtos não é sustentável. A terra vai colapsar. Os sistemas ambientais vão colapsar. Há de se pensar em alternativas. Os OGMs seriam uma delas?
Bom, eles já estão aí. E tem mais: A empresa americana AquaBounty está esperando, apesar de protestos de ativistas, apenas a aprovação final do governo para poder comercializar de seu salmão transgênico - que, atinge o tamanho de abate na metade do tempo dos salmões "tradicionais". Além disso, pesquisadores da Universidade de Guelph (Canadá), estão atrás da aprovação para seu Enviropig (o "ecoporco"). Eles enxertaram um gene de rato nos do porco, para que suas fezes sejam menos poluentes, e garantem que sua carne é absolutamente segura para consumo humano.
O maior motivo de várias entidades serem contra os transgênicos, é o fato deles serem recentes, e o receio de estarmos sendo uma grande geração de cobaias. De fato, só saberemos se há consequências sérias de seu cultivo ou consumo daqui a algum tempo. Mas a pressa para aprovação é grande por parte das empresas. Como demoram muito pra ser aprovados, a pesquisa é inviabilizada, pois a patente pode expirar enquanto a empresa ainda luta por sua comercialização.
Como afirma a reportagem, a empresa Syngenta participou da criação do Golden Rice, arroz enriquecido com vitamina A , que é responsável por mais de 1 milhão de mortes por ano em países como Bangladesh e Vietnã. Esse produto não chegou ao mercado ainda, está pendente de aprovacão. Produtos similares, como a cenoura rica em cálcio, o tomate com mais antioxidantes e a mandioca fortificada com ferro, zinco e outras vitaminas, já foram desenvolvidos por cientistas, mas é impossível saber quando chegarão ao mercado. Como têm menor potencial comercial que soja ou milho, quem bancará os custos da aprovação?
O interessante é que as pesquisas para transgênicos vem se tornando comum em países do terceiro mundo. Em Uganda, há estudos para lançar a banana resistente a pragas, na China, já foi aprovado o plantio de arroz e milho transgênicos; a Embrapa lançou uma soja transgênica, feita em parceria com a Basf. O próximo alvo da Embrapa é um dos pilares da mesa brasileira, o feijão. O objetivo é criar um feijão que resista à praga do mosaico dourado, vírus que pode destruir até 100% da safra.
Por enquanto, a maioria dos transgênicos tem beneficiado o produtor (maior produtividade, maior resistência a pragas, menor ciclo de produção). A tendência agora é beneficiar também o consumidor - doses elevadas de vitaminas, conter um componente interessante à saúde em doses elevadas (vide o caso do ômega 3). Agora resta esperar a aprovação. A revolução já começou. Cedo ou tarde, eles vão estar na sua mesa.

Fonte, dentre outras: Revista Exame, 31/08/2010

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