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11 março 2011

Produção Sustentável pode Alimentar o Mundo? Por Mark Bittman

Mark Bittman, colaborador do The New York Times, publicou o artigo abaixo mostrando uma opinião claramente a favor da agricultura sustentável como modo de nos salvar do caos atual. Aqui vai o artigo, numa tradução livre. Ele provocou reações calorosas, de leitores de todas as partes da sociedade.



          O argumento mais comum e antigo contra a agricultura orgânica é que ela nao pode alimentar toda a população do mundo. Isso, entretanto, é uma suposição, não um fato. E a agricultura industrial não está desempenhando perfeitamente, também: o índice global de preços de alimentos está em uma alta recorde, e nosso sistema agrícola está destruindo não somente a saúde dos humanos mas a da terra. Há em torno de 1 bilhão de pessoas subnutridas, e também podemos agradecer o sistema atual pelo outro bilhão de pessoas que estão acima do peso ou obesas.
         Mas, há boas notícias: um número crescente de cientistas, painéis políticos e experts (e não hippies) estão sugerindo que práticas agrícolas bem próximas da agricultura orgânica - talvez melhor chamada sustentável - podem alimentar mais pessoas em necessidade em breve, começar a reparar os danos causados pela produção industrial, e no longo termo, se tornarem a norma.
        Recentemente, Olivier de Schutter, repórter especial da ONU para o "Right to Food", apresentou um relatório "Agro-ecology and the Right to Food". ( Agro ecologia, ele disse em uma entrevista ao telefone, tem muito em comum tanto com "sustentável" tanto com "orgânico"). Entre suas recomendações, a principal é essa: "A agricultura deve ser fundamentalmente redirecionada para modos de produção que são mais ambientalmente sustentáveis e socialmente justos". Ele diz que a Agroecologia ajuda imediatamente "pequenos agricultores que devem estar aptos a trabalhar de maneira menos cara e mais produtiva". Mas os benefícios são pra todos nós, porque ela desacelera o aquecimento global e a destruição ecológica. Além disso, ao descentralizar a produção, enchentes no Sudoeste da Ásia, por exemplo, não vão causar quedas enormes na produção de arroz mundial. Produção em pequena escala faz o sistema ficar menos susceptível a choques climáticos. (Chamar isso de sistema é uma convenção, na verdade tudo isso é anárquico, todas essas pessoas morrendo de fome e ao mesmo tempo as com sobrepeso/obesidade, anulando umas às outras).
              Agricultura industrial (ou "convencional") requer um grande montante de recursos, incluindo quantidades desproporcionais de água e combustíveis fósseis que são necessários para fazer fertilizantes químicos, trabalhar a terra  e as plantações mecanicamente, manejar sistemas de irrigação, aquecer prédios, e claro,  no transporte. Isso significa que ela precisa mais de recursos que a terra tem pra prover de volta. (Fato Divertido/Depressivo: levam-se 18 meses pra terra decuperar o montante de recursos que usamos por ano. Olhado por outro lado, precisaríamos 1,5 terra para ser sustentáveis na nossa atual taxa de consumo).
           A Agroecologia e métodos relacionados vão requerer recursos, tambe'm, mas eles são mais na forma de trabalho, tanto intelectual - muita pesquisa ainda precisa ser feita na área - e físico: o mundo vai precisar de mais agricultores, e bastante possivel, de menos mecanização. Aqueles que trabalham pra melhorar a agricultura convencional, estão cada vez mais emprestando técnicas da agricultura orgânica (sistemas híbridos).
           Atualmente, no entanto, é difícil ver progresso num país (* EUA * )  onde, por exemplo, quase 90% da produção de milho é ou usada pra etanol (40%) ou alimentar animais (50%). E a maioria dos aderentes da agricultura industrial - tristemente, isso incluí geralmente o Congresso, que ignora esses problemas em grande parte - agem como se fôssemos "fixar" o aquecimento global e a mudança climática resultante. Eles assumem que ao aumentar a oferta, nós eventualmente vamos descobrir como alimentar todo mundo na terra, mesmo que não o façamos agora, nossa população vai ser de 9 bilhões em 2050, e mais oferta das coisas erradas - petróleo, milho, carne - apenas piora as coisas. Muitos acreditam que não vamos ficar sem recursos, e que precisamos manter esse sistema funcionando.
         Para explicar alguns obejtivos óbvios: Nós precisamos de uma perspectiva global, o reconhecimento (moral) de que alimento é um direito básico e o reconhecimento (prático) de que sustentabilidade é uma prioridade alta. Nós queremos reduzir e reparar danos ambientais, reduzir a produção e o consumo de alimentos que utilizam muitos recursos, aumentar a eficiência e fazer alguma coisa em relação às sobras. Alguns estimam que 50% de toda a comida é perdida. Uma dieta sensível e nutritiva para todos nós é essencial, muitas pessoas vão comer melhor, e outras até vão comer menos produtos animais, o que também se traduz em comer melhor.
        De Schutter e outros que acreditam que os objetivos do parágrafo anterior, dizem que a agricultura sustentável deve ser a escolha imediata para países subdesenvolvidos, e que até mesmo países desenvolvidos devem tomar apenas os melhores aspectos da agricultura convencional, deixando o restante pra trás. Pouco tempo atrás, o governo do Reino Unido publicou o relatório "The Future of Food and Farming", que condena o sistema que usa recursos em demasia (apesar de ser decididamente pró - OGM) e encoraja o sustentável, o que levou De Schutter a dizer que esses estudos demonstram que a agricultura sustentável pode mais que dobrar sua produção em apenas alguns anos.
         Ninguém sabe quantas pessoas podem ser supridas dessa maneira, mas um número de experts e estudos - incluindo aí ONU, University of Michigan e WorldWatch - parecem estar se alinhando ao sugerir que agricultura sustentável é um sistema pelo que mais pessoas devem optar. Para nações em desenvolvimento, especialmente aquelas na África, a mudança de tecnologia intensiva pra baixa tecnologia pode acontecer muito rapidamente, segundo De Schutter. "É melhor fazer a transição em lugares que ainda tem uma direção a tomar". Mas, ele acrescenta, "em regiões desenvolvidas, a mudança no sentido contrário ao modo industrial vai ser difícil de se consolidar". Mas no fim, até os países viciados em fertilizantes químicos devem mudar.
        "Nós temos que mover na direção da produção sustentável", ele disse. Nós não podemos depender nos campos de gás da Russia ou nos estoques de petróleo do Oriente Médio, e não podemos continuar a destruir o meio ambiente e acelerar as mudanças climáticas. Nós devemos adotar as técnicas de produção mais eficientes que estão disponíveis". E essas, ele acrescenta, são sustentáveis, e não industriais.

Matéria original do The NY Times: aqui

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